Gosma

Precisões linguísticas da metereologia do sul do país: os estados (ou melhor, o estado) da Gosma.

Esses tempos, o nosso poeta Nei Lisboa afirmou que no Rio Grande do Sul temos cinco estações: Primavera, Verão, Outono, Inverno e Gosma. É por essas coisas que não se pode deixar ciência na mão de artista. Qualquer gaúcho percebe a imprecisão conceitual, o descaso pelo detalhe. Ele não faz a clara distinção que existe entre Gosma Quente, Gosma Fria e Instabilidade Gósmica.

Como talvez seja lido por estrangeiros, explico o que é Gosma. Claro que existe a umidade, mas ela é um estágio anterior, mais tênue, da Gosma. A umidade aumenta a sensação térmica, a Gosma a multiplica. Logo, a Gosma é quando realmente a coisa pega. Dizem que nos dias de Gosma se poderia deixar os peixes soltitos fora do aquário, só não recomendo porque ainda não testei.

O nome vem dos efeitos. Tudo, e quando digo tudo é tudo mesmo, fica recoberto por uma camada fina e pegajosa, uma fase anterior ao bolor, um bolor líquido. Você lava o cabelo e duas horas depois parece que não o lava há uma semana? É dia de Gosma. Dói a cicatriz do nono? É Gosma. Nosso corpo sua mesmo que esteja muito frio? Gosma na certa.

Talvez outro conceito que atrapalhe os não nativos seja o conceito de Instabilidade Gósmica, que é quando o clima não se decide pela modalidade Gósmica e deixa o vivente indeciso entre bota ou alpargata. São os dias que o clima faz que vai, mas não vai e acaba indo na direção contrária a que pensamos. A Instabilidade Gósmica, também chamada de Gosma Oscilante, é o momento Gósmico bipolar em que as Gosmas freneticamente se alternam.

Portanto, se você quer entender o nosso clima tem que partir do básico: temos sete estações no estado. E elas sucedem como em todos os lugares, mas aqui que podem rodar várias no mesmo dia, quando não todas.

Difícil é fazer os outros nos entenderem. Sabe aquele desânimo que bate quando um amigo de fora está para vir e nos pergunta: o que que levo de roupa? A gente tem que dizer: tudo! Claro, existem parâmetros básicos: não precisa de japona em janeiro, como não é preciso trazer Havaianas (aquele chinelo de borracha brasileiro que infelizmente pegou por aqui) em julho, mas fora isso, vai que é uns dias de Gosma, melhor estar prevenido. Em resumo, vem moda, sai moda, o que não muda é que gaúcho se veste como uma cebola, em uma sucessão de camadas que podem ser retiradas e recolocadas ao longo do dia.

É equivocado dizer que o Cléo Kuhn não acerta. Ele acerta, apenas não se rende aos conceitos locais. Ele se sente no dever de usar o vocabulário comum, da meteorologia tradicional, utilizada no resto do mundo e não afina a sintonia do vocabulário correto para nosso estado. Dissesse ele: “olha gente, hoje vem muita Gosma”. Nem precisaria dizer qual, a gente já entende que é para se precaver para tudo.

23/10/14 |
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4 Comentários
  1. Naor Nemmen permalink

    Eca!

  2. Beatriz Diamante permalink

    Taí, pela primeira vez entendi o clima daqui e obrigada por me dar um nome para uma sensação , que há muito tempo já sentia.

  3. Poucas pessoas sabem. Mas muitas desconfiavam. As cenas de gosma do filme Homens de Preto MIB foram inteiramente filmadas aqui. 🙂

  4. Norma permalink

    Muito bom. Introduzir no conceito a gosma febril. Quando estamos num inicio de gripe, justamente pelas mudanças climáticas e se sente o corpo gosmento. É a gosma febril.

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