Ações do Forte Apache

O tesouro da infância só vale se passado adiante.

Eu entendo o Eike Batista, sei do seu sofrimento. Como ele, já fui muito rico e perdi propriedades. Era negócio de família, eu e meu irmão. Possuíamos um Forte Apache, uma tribo de uma nação indígena (Sioux), uma granja e uma pequena vila. Vocês não imaginam o que dava de trabalho para gerenciar essa gente toda. Tínhamos ainda um conflito étnico, a maioria dos índios era comprada e colorida, mas havia os que vinham de brinde nas embalagens de Toddy que eram monocromáticos. Houve problemas de aceitação, foi um desafio assimilá-los. Acrescente a isso o desequilíbrio nas proporções sexuais, praticamente uma mulher para cem homens. Gastávamos muita energia para deixar essa engrenagem social funcionando.

Éramos felizes, afortunados, mas não ricos. Um dia a sorte grande chegou. Um vizinho arranjou uma namorada e resolveu queimar as pontes com sua infância. Para nosso benefício fomos brindados com mais um Forte Apache e um novo contingente indígena (Navajo). Graças a nossa experiência administrativa conseguimos assentar os novos imigrantes sem aumentar o território. Nossos pais, insensíveis ao problema, não disponibilizaram um quarto extra.

Dois fortes e duas nações indígenas multiplicaram os arranjos bélicos. Foram muitos massacres, mas ao contrário da história, como em nosso quarto tentávamos equilibrar o mundo, os indígenas levavam a melhor e havia um acordo de poupar os cavalos. A reconstrução era trabalhosa, mas uma nova configuração política sempre rebrotava dos escombros.

O tempo passa e novas ocupações nos tiraram do foco dessa empreitada. Para o bem desse povo resolvemos passar o domínio a um primo. Inacreditavelmente, sozinho ele deu conta. Anos depois o conjunto retorna. Minha tia diligentemente guardou tudo e devolveu quando minhas filhas eram pequenas. Descobri, junto com as meninas, que o plástico tem vida curta. Soldados calejados que passaram por tudo agora perdiam a perna apenas montando a cavalo. Sem tiros de canhões os corpos se despedaçavam, nada parava em pé. Com tristeza despachamos para reciclagem, mas os soldados e os índios entenderam que a sua missão fora cumprida.

Conto a história com um propósito: façam uma limpeza em suas casas, desentoquem os velhos brinquedos. A missão de um brinquedo é ser destruído, ele só será feliz se for usado à exaustão, se uma criança lhe tirar o suco. Infeliz do brinquedo guardado intocados na caixa original. Lembre-se: pode estar ao seu alcance fazer uma criança ser milionária.

06/04/14 |
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