As bandeiras que nos restam ou Até a pé nos iremos pela glória do desporto regional

Sobre os impasses da identidade gaúcha refletidos no futebol

Os gaúchos andam ultimamente muito ouriçados pelo futebol. Creio que mais do que de costume. Não é à toa, recentemente a dupla gre-nal têm produzido feitos realmente significativos, responderia prontamente qualquer um. O Internacional saiu do seu marasmo e abocanhou três títulos internacionais. O Grêmio, depois de naufragar na segunda divisão, ressurge das cinzas e é grande candidato à Libertadores com um time “peleador”, exatamente como nosso povo acha que deve ser.

Mas não é só isso. Vou arriscar uma outra idéia: as bandeiras do futebol são as últimas que andam sobrando para os gaúchos. Explico, o estado vai mal, entra governo e sai governo e parece que é mais do mesmo. A folha de pagamento não anda em dia, poucos e raros são os investimentos novos. Entre os espíritos da inércia e da falência generalizados, tudo indica que estamos quebrados de fato. Somado a isso, grandes empresas locais foram recentemente vendidas, e já sabemos de cocheira que outras seguem esse rumo. Afinal, embora não estejamos entre os que ganham dinheiro com isso, a pujança de uma empresa do estado de certa forma nos representa, identificamo-nos com o conterrâneo bem sucedido, quem sabe se a gente daqui ainda pode dar certo… Pois é, mas hoje são os lá de cima, ou os lá de fora, que andam amarrando seus cavalos em nossos obeliscos.

Resumindo, faz tempo que os gaúchos não recebem uma boa notícia no campo econômico e político. Só nossos times é que vencem nesse mundo globalizado. É visível a olho nu que rumo do estado é ladeira abaixo. Não só pela dureza do brete em que estamos, mas pelas nossas parcas capacidades de reação.

Dando um vistaço nos nossos políticos, não se acha uma liderança regional que se erga sobre as diferenças políticas miúdas, ou seja, um estadista, um líder (lembrem da sintonia entre a governadora e seu vice). Logo nós, que já fomos celeiro de políticos, de presidentes, hoje só exportamos moças bonitas… Afinal, para resolver uma crise política necessitamos de políticos.

A coisa só não está pior porque o país não vai tão mal quanto nós. De qualquer forma é triste ver outros estados darem sinal de luz e passar na nossa frente, tão rápido que nem percebemos. Sempre nos orgulhamos de ser um estado de vanguarda, rico de idéias e de recursos, exemplo para o Brasil. Hoje ou nos enganamos, e ficamos contando e cantando as vitórias passadas, ou damos um jeito nessa tristeza. E não só ganhando campeonatos de futebol. Não que a gente dispense essas vitórias, mas outrora este povo do extremo do Brasil já pretendeu mais.

Moral da história: Até a pé nós iremos à plagas distantes em busca de feitos relevantes. Mas não por querer, e sim porque vendemos o cavalo pra pagar o bolicho.

Publicado no jornal ABC
10/06/07 |
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Um Comentário
  1. helvio ademir da silva permalink

    Muita verdade, eu moro em Santiago RS, e me impressiono com essa autoestima exacerbada do gauchismo, principalmente na semana farroupilha, na realidade eles tapam um olho, e so enxergam o que querem.

    Helvio

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