Belas e feras

Sobre o filme A Pele

Tenho uma cabeleireira muito especial, Paula Ferrary. Foi ela que me apresentou a Diane Arbus, cujas fotografias misturam-se às Vogues em seu estúdio no Bom fim.

Diane Arbus foi uma fotógrafa norte-americana, representante da geração das filhas das baby-boomers. Nascida em 1923 e morta em 1971, tendo sua vida adulta transcorrido nos anos 50, através de seu olhar compreendemos muito da inquietação que toma as mulheres desgarradas dos papéis tradicionais. Sua vida é narrada com grandes liberdades ficcionais em “A Pele”, belo filme ao qual me dediquei neste fim de semana. Lá está a mesma Nicole Kidman, que quatro anos antes já havia desempenhado o mesmo papel de mulher açoitada pelos fantasmas de sua própria criatividade, interpretando Virgínia Wolf, em “As Horas”.

No filme, a personagem por quem ela se apaixona, um homem peludo, extremamente evocativo da Fera dos contos de fada, revela à Bela Diane que ela é que é verdadeiramente estranha, freak, como seus retratados. Talvez seja como sente-se toda mulher marginal ao seu script materno-matrimonial. A Bela dos contos vai ao castelo do monstro para descobrir-se capaz de amar além das aparências, mas as aparências que devem ser superadas, em verdade, não são as do amado, são as próprias, ela é que precisa transformar-se para viver um grande amor.

O caso das mulheres como Diane e Virgínia, unidas na ficção pela mesma atriz, leva-nos a um novo território, onde descobrimos que o amor de desafia as mulheres é o de deixar-se criar para além da procriação. Em primeiro lugar isso faz de cada mulher um ser estranho e sinistro como os retratados por essa fotógrafa. Em segundo lugar, parece ser um fardo tão difícil de carregar que levou ambas a desistir do esforço de viver. Espero que esteja ficando mais fácil, chego a acreditar que sim…

Publicado no blog “Terra do Nunca”
25/08/08 |
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