História antes de dormir para minha neta

Brincando de contar uma história pra gente grande como se pequena fosse…

Havia uma vez um pequenino planeta na borda do sistema solar. Nem nome ele tinha. Só ganhou um em 1930. Foi chamado de Plutão. Ficou muito feliz.
Além de receber o nome do deus da riqueza e dos mortos romanos, ele foi convidado para fazer parte da elite do nosso sistema solar.
– Ester: ele tinha príncipe, baobás e vulcões?
Não, querida. Não tinha nada lá. Mesmo assim Plutão tornou-se o nono planeta do nosso sistema. Passou a fazer parte das maquetes, dos mapas, dos esqueminhas de lembrar os nomes dos planetas.
Todos os estudantes o conheciam. Por isso vivia cheio de orgulho.
Porém, num triste dia de 2006, foi desclassificado da categoria planeta.
Aconteceu que descobriram que um de seus supostos satélites, chamado Caronte, tem uma massa quase tão grande quanto ele.
Portanto ele não o orbita e sim os dois dançam juntos ao redor de um ponto externo no espaço.
Por isso, foi retirado da serie A e foi para a serie B, junto com outros planetas anões do cinturão de Kuiper.
Aliás, para arrematar a humilhação, também descobriu-se que existe um outro planeta anão maior do que Plutão chamado Éris.
Foi nesse momento que o planetinha veio me pedir conselhos profissionais.
– Ester: por que você vovô?
Por que é quem eles podiam pagar. Sabe como é, planeta pequeno, poucos recurso, sem lobby influente.
Só restava um psicanalista de um pais periférico com moeda desvalorizada.
– Ester: ele estava triste vovô?
Muito, não parava de chorar.
Dizia que ele estava quieto no seu canto – quer dizer, na sua raia orbital, afinal espaço não tem canto – e que nunca pediu nada para ninguém.
Então o encheram de honrarias, o convidaram para um clube maravilhoso, e depois, o mandaram embora.
– Ester: não é justo mesmo. Você foi até lá ou ele veio no consultório?
Era pandemia, teve que ser atendimento virtual.
– Ester: O que você disse?
Disse que ele devia nos perdoar.
Nós humanos o tratamos como nós somos.
Temos vida curta, nossa fama é transitória e finita.
Disse também que sofrer por hierarquia é coisa de humanos, que ele devia voltar para sua postura cósmica de indiferença planetóide.
Sabe Ester, infelizmente não percebemos que um astro não pode ser tratado com a nossa régua.
Acrescentei também que ele estava errado quando dizia que seria melhor que isso nunca tivesse acontecido.
É sempre melhor uma boa experiência momentânea, do que nenhuma.
Que ele conheceu a insana vaidade humana e agora sabe que ela traz nada de bom.
Além disso, que nada é para sempre, até o Sol, que ele reverencia orbitando, um dia vai apagar.
– Ester: Vovô, não gostei! Eu diria pra ele que um dia pegamos um foguete e plantamos baobás, que é árvore mais linda que tem. Daí só o planeta África, o B612 e Plutão terão baobás e ele será feliz outra vez.

PS: A propósito, Minha neta é imaginária, mas a saudade da infância das minhas filhas é real…

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