O que quer um homem?

O feminismo não combate os homens, pelo contrário. Ele traz para ambos os sexos uma consciência do peso dos clichês, aos quais nenhum de nós nunca se ajusta. Portanto, o feminismo liberta os homens.

Bicha, boiola, maricas, frutinha, boneca, fresco, veado, não faltam palavras para os que fogem, mesmo que por detalhes, dos clichês da macheza. É tão vasta a riqueza de nomes para definir esses “desviantes”, como é para nomear uma mulher que não seja recatada e do lar. Só isso já nos dá uma pista de que os privilégios masculinos custam caro demais.
Imagine se os homens não precisassem viver provando sua virilidade. Se pudessem libertar-se da frigidez emocional, sentir, chorar. Se não tivessem sua sensualidade restrita ao pênis. Se fizessem o exorcismo da sina da ereção eterna. Seria a libertação de uma cultura que os obriga a viver presos em uma carapaça pesada e inútil.
Na mesma fogueira destinada aos sutiãs, eles jogariam anabolizantes, alteres, viagras, ternos duros e gravatas sufocantes. Os que foram discriminados pela falta de simpatia pela bola, iriam incinerar as camisetas do time que nunca conseguiram amar. Nunca houve uma grande queima ritual de sutiãs, é uma referência simbólica. Foi nossa imaginação histórica, que associa mulheres com bruxas, que a recriou.
Tais militantes homens da causa, sofreriam o peso da condenação social, como ocorre até hoje com as mulheres que não são virginais e submissas. As que polemizam ainda são vistas como vadias, frígidas, mal amadas, movidas pela inveja do pênis e recalques variados.
Ao nascer você recebe um nome e é encaixado em uma das duas categorias. Ao contrário das perguntas que possamos fazer-nos sobre como ser, no que acreditar, em nome do que existir, a masculinidade e a feminilidade estão fadadas a ser o paraíso da previsibilidade. Desde nossa certidão de nascimento até o atestado de óbito, vai ser preciso marcar com um X o sexo ao qual pertencemos. Aferramo-nos a essa divisão binaria porque duvidar cansa, dá medo.
Estudando história, descobrimos como as certezas científicas e morais sobre as características do homem e da mulher podiam virar até o oposto do que se acreditava antes. Comicamente, continuaram sendo apresentadas como verdades eternas, naturais e universais.
Quantos meninos foram rejeitados pela família ou desprezados pelo pai? Quantos foram fisicamente agredidos, até abusados? Quantos tiram a própria vida por isso? Quanta solidão, por medo de ser considerados próximos das mulheres? Quanto ódio para nunca serem taxados de fracos e submissos?
A guerra dos sexos está na origem da epidemia de femicídios e cobra sua cota de vidas dos dois lados das trincheiras. A violência masculina faz vítimas em suas próprias hostes.
Eles passam dizendo que não sabem o que uma mulher quer, as acusam de eternas insatisfeitas. É que, com suas lutas, elas aprenderam a colocar isso em questão. Sonho com o dia em que também um homem possa duvidar do que, afinal, ele quer.

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