Quem é o novo macho?

Sobre o livro Canalha! de Carpinejar

Imagine se nossos seios excitados ficassem eretos sob a blusa, alardeando que uma fantasia erótica atravessou o pensamento, numa reunião de trabalho! Como nos sentiríamos se a cada mínimo gesto suspeito as amigas gritassem “sapatona!”. Com os homens é assim. Não temos dúvidas de que ser mulher sempre foi difícil, mas achamos que ser homem é fácil. Errado. Na dúvida, pergunte ao Fabrício Carpinejar. As respostas virão sob forma de crônicas engraçadas e líricas, em seu livro “Canalha!” (Ed. Bertrand Brasil).

Ele dirá que “dói ser homem, é cansativo ser homem. Sim os homens tem facilidades: mijar em pé. Falei facilidades?, retiro, o homem tem uma facilidade: mijar em pé”; explicará que a masculinidade é “um exame infindável de testosterona intelectual”. Performático e provocador, ele pinta as unhas (de uma das mãos), e com a manicure de sua mulher descobriu um dos segredos femininos: “ela quer ouvir de mim que simplesmente estou ouvindo”. Fabrício investiga as mulheres, quer descobrir-lhes a receita, aprender a se fazer amar por elas. Por isso, recomendo aos homens que abandonem todos os sites de conselhos sobre como conquistá-las e leiam o livro do Fabrício. Estamos lá, perigosa e respeitosamente reveladas. A leitura serve também às mulheres, boa ocasião de descobrir que os homens mudaram tanto quanto nós, e quanto. Eles ficaram diferentes, porque “uma mulher não se interessa (mais) por homens prontos, fechados, absolutamente perfeitos. Não se interessa por cadáveres”.

Dizem que os machos são mais ativos, que a dependência é característica da fêmea humana, que mulheres são sensíveis, enquanto homens são rudes e narcisistas, mas longe dos clichês, nunca sabemos se estamos à altura da nossa identidade sexual. Ao preencher um formulário, assinalamos o sexo a que pertencemos, quem dera fosse tão simples! Na prática passamos a vida tentando validar o X colocado no “masculino” ou “feminino”. Pelo menos o amor é um alívio para os impasses erótico-existenciais: quando somos desejados nos sentimos homens ou mulheres de verdade. Por isso, para descrever o novo macho, Fabrício teve que falar de amor, mas não só disso: da amizade entre os homens revelou os segredos do vestiário, onde a intensa cumplicidade e o erotismo agressivo e lúdico compensam as olimpíadas de macheza, o exercício compulsório da bagaceirice.

Colocadas na periferia da história, sob um manto de docilidade, as mulheres tornaram-se mordazes caçadoras de pontos fracos nos machos e suas instituições. Por hábito de bastidores, elas percebem demais, embora guardem os defeitos de seus maridos e filhos enquanto segredo pessoal. Por sorte ele nos encarou, olhou direto na nossa cara de esfinge, agüentou o frio na espinha, amou e foi amado, ganhou e perdeu, para no fim contar dos impasses do novo macho frente às mulheres liberadas. As melhores verdades não provêm de respostas, e sim das perguntas bem colocadas. As perguntas de Fabrício estão lá.

01/10/08 |
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