Romeu e Julieta

Somos animais políticos, o litígio de ideias é o nosso estado natural. Pare de culpar as redes sociais, elas apenas são um novo instrumento para uma velha paixão.

Lembram da rixa das famílias de Romeu e Julieta? Quando encontravam-se por acaso na rua começava provocações que poderia terminar em briga e morte. Assim inicia essa peça famosa de Shakespeare, com sangue derramado já na primeira cena. Provavelmente uma família era partidária dos Guelfos e a outra dos Gibelinos. Facções políticas daquela época, se hoje não nos diz nada, mas para eles dizia tudo, duas visões de mundo opostas estavam representadas.
Trago a peça para lhes dar uma má notícia. Se você está cansado da polarização, da chatice que é quando qualquer fato torna-se polêmico, quando tudo ganha uma dimensão política, quando minúcias transformam-se em assunto e o bom senso parece que saiu de férias. Aquece a água do mate e senta porque, infelizmente, esse túnel é longo. Quem acredita que a polarização é de hoje, não estudou história o suficiente. Nós somos animais políticos, o litígio de ideias é o nosso estado natural. Pare de culpara as redes sociais, elas apenas são um novo instrumento para uma velha paixão.
Pode ser que você esteja mal acostumado, existem tempos de exceção. Quando a economia vai bem, não há crise política escancarada, e os terremotos do acaso não estão presentes, esquecemos um pouco essa dimensão e podemos cuidar da nossa vida miúda. Eu tenho saudades da época que a maioria dos brasileiros era técnico de futebol e não epidemiologista. Ou seja, não vamos ter este cenário tranquilo de volta em curto tempo. A economia vai mal, a pandemia empobreceu e enlutou a muitos, e não há consenso político sobre nada.
E outro fator maiúsculo vai dar as caras. A pandemia apenas adiou o questão sobre o aquecimento global. Preparem-se para milhões de especialistas em clima, formandos na prestigiosa WhatsApp University, nos ensinando o que está acontecendo e para onde vamos.
Fiz questão de Romeu e Julieta como exemplo para mostrar que o Cupido não respeita as regras desse jogo. Hoje precisamos de um historiador para nos contar as ideias que separavam as famílias rivais, mas nos é muito claro o encanto que uniu os jovens. Talvez seja uma boa lição da peça sobre quais as prioridades da vida, o que é eterno e o que é passageiro. Conheço pais e filhos que estão sem se falar por política, amigos que romperam, famílias que já não comemoram juntos as datas importantes. Daqui a uns anos, será que vamos conseguiremos explicar para os nossos netos porque rompemos?
Vai se sair melhor desses dias duros que nos aguardam quem apostar no diálogo e na tolerância. Quem souber costurar alianças com os diferentes, quem transitar entre quem não pensa igual. Fogo já temos em demasia, é hora de nos treinarmos como bombeiros.

06/04/22 |
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