Teste do Aniversário

O incurável medo de ser esquecidos na porta da escola…

“Teste de aniversário” é uma festa que finge ser secreta. É quando se espera os convidados sem avisá-los e sequer se dá aqueles recadinhos nada subliminares que lembram os queridos da data que não deveriam esquecer. É o mesmo que ocorre com os amantes que sempre querem ser surpreendidos pelas provas de amor do outro, ou quando chegamos sozinhos de uma viagem, depois de fingidamente ponderar que não tem sentido ser buscados no aeroporto ou rodoviária, e sentimos uma pontinha de tristeza pela falta de alguém esperando.

Só fiz o teste do aniversário uma vez e foi um desastre, não recomendo. O momento era dos menos propícios, já que não era minha fase de maior popularidade. Seja por desânimo ou por imaturidade, no meu aniversário de vinte e poucos anos decidi não avisar ninguém. Recebidos os cumprimentos óbvios de pais e namorado, arrumei uns parcos acepipes e fiquei à espera dos amigos, que nunca chegaram. No final da noite, a campainha tocou, mas era um colega pedindo um livro emprestado.

As crianças pequenas temem ser esquecidas na escola e é um alívio cotidiano encontrar seu adulto na hora prevista para buscá-las. Essa espera angustiada pelo resgate familiar, parados na porta do prédio que rapidamente se esvazia, é um bom exemplo do quanto tememos ser esquecidos. Precisamos saber que moramos no afeto dos outros mesmo quando estamos ausentes. Mas “os cemitérios estão cheios de insubstituíveis”, costumava dizer minha saudosa avó. Como ela previa, deixou tristeza ao partir, mas a vida seguiu seu curso. É indigesto saber-nos substituíveis, passageiros.

Os amigos, amores e parentes costumam estar presentes nos momentos difíceis ou importantes, assim como nos ritos de passagem, porque sabem que ficamos frágeis nessas ocasiões de transição. Usar uma nova idade, principalmente as datas redondas, voltar para casa, partir, mudar-se, casar, perder alguém, ter um filho, formar-se, enfim, tudo o que é novo nos encontra inexperientes para o que ainda não somos. O futuro é a garantia de que continuamos, mas enterra um passado mais acolhedor.

A companhia dos seres queridos garante que não nos perderemos de nós mesmos. Por isso, na escola da vida, ao sair precisamos dos outros como de uma mãe acenando na porta e lembrando que ainda temos para onde voltar, que um novo lugar não apaga os anteriores.

Dia 22 de setembro, na Livraria Cultura, às 19:00, estarei lançando um livro de crônicas (muitas nascidas neste jornal) e pequenos ensaios chamado “Tomo conta do mundo: conficções de uma psicanalista”. Já me tornei uma incrédula do teste do aniversário, não ficarei quieta esperando uma prova de amor. Por isso aqui vai o convite, porque ainda tenho medo de ser esquecida na escola.

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